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Mostrando postagens de setembro, 2011

Um dia em setembro

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Naquele dia acordei estranho. Senti a cabeça pesada, como se tivesse tomado todas na noite anterior. O sol não brilhava. O fosco daquela manhã parecia o prenuncio de uma tempestade que não caía há algumas semanas. O cheiro da brisa poeirenta irritava ainda mais a minha renite. O som dos pássaros estava baixo, como se pressentissem algo de cruel naquele dia. Nem o delicioso café da mamãe parecia tão saboroso quanto antes. Ao caminhar pela rua de chão batido do lugarejo onde morava, percebi que quase ninguém estava nela. A dona Catarina varria o terreiro como de costume, mas não cantarolava suas velhas canções. O Seu Dico apenas abanou a cabeça para me cumprimentar do portão, o que não era de seu feitio, adorava as pilhérias. A casa de meu amigo, o segundo melhor lugar do mundo para mim naquela época, estava silenciosa. Concluí que alguma coisa estava acontecendo. Na sala, Adriana estava atônita frente à TV. Perguntei pelo irmão dela, mas não houve resposta. Sentei-me ao seu lado e ver

O Caso da Borboletinha

Por duas vezes a Borboletinha voou sobre a cabeça do Homem. Ela queria apenas mostrar toda sua exuberância, talvez querendo que ele a notasse. Mas não havia resposta positiva, apenas tapas, assopros e blasfêmias. Era uma pessoa insensível ao tipo de beleza que exprime um bichinho tão delicado. Por dias tentou contato, porém em vão. Nem a aproximação dela, o Homem permitia mais. Eis que um dia, acordando de uma sesta, ele a enxergou. Na pontinha de seu nariz pode observar tudo o que não se permitiu ver por um bom tempo. A Borboletinha fazia pose, se sentiu com o astral ascendente. Por vários minutos se olharam, se admiraram, se apaixonaram. O Homem se retraiu. Aquilo jamais poderia acontecer, pois era um machão convicto. Nunca se inclinaria a uma situação daquela. Passaram a se ver todos os dias. Ele sempre quis parar, mas já era tarde. A Borboletinha havia tomado seu coração, era sua pequena musa. O Homem se rendeu ao amor que sentia, passeava, cantava, dançava, sempre com

O Velho e o Bar

E mais uma vez lá estava o Velho. Cabeça baixa, olhar perdido, parecia compadecido por alguma moléstia incurável. Seus braços pesados, como se tivessem sustentado o mundo nas costas, não mais conseguiam ficar por sobre a mesa. Sozinho, sua única companhia era um Ursinho de pelúcia que encontrara no lixo. Falava sobre sua vida, lamentava suas tristezas. E o ursinho ouvia atentamente. Um dia o Velho estava agitado. Abanava as mãos grossas e movimentava freneticamente sua boca murcha. O pessoal que ainda estava no bar, se afastou com medo de que a insensatez lhe tirasse a razão. Novamente sozinho, começou a chorar. De repente sentiu um toque aveludado em seus ombros. O Ursinho estava de pé na mesa, com um olhar terno, como se quisesse dizer algo ao seu amigo de longa data. Ainda sem acreditar, o Velho olhava para todos os lados, mas só ele ali estava. Tomou coragem e perguntou ao Ursinho o que ele queria. Sem nenhuma resposta, levou a mão rude até a cabeça do felpudo. Sim, era o