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Mostrando postagens de 2018

Minha primeira dança

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Nem acredito que fez trinta! Ali na sala, sobre o chão de vermelhão, sob os olhares divertidos de pais, tios, primos e avós. Queriam que dançássemos, mas só tínhamos olhos para TV. Seus cabelos trançados e o macacão azul combinavam com o meu cabelão alvoraçado, shortinho amarelo e canelas russas. Sempre que fico saudoso, volto àquele lugar, aquela cena. Não só por ser uma das minhas primeiras lembranças da vida, mas por que ali conhecia minha primeira amiga. Sim, você pode não saber, mas foi. Por vezes sentava no meio-fio em frente a casa da Vó Drega à sua espera, todos os fins de semana festivo. Gostava mais de sua presença na páscoa do que chocolate. Crescemos. Seguimos nosso caminho, nossas vidas. Vez ou outra nos encontramos, em ocasiões tristes e felizes. E sempre está lá, sorrindo. As brincadeiras bobas e as provocações nós conservamos, como se voltássemos a ser aquelas crianças arteiras. E eu sei que nesse sorriso tem a genuinidade, a mesma que via quando debocháva

Baleia

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Fabiano matou Baleia. Por que era necessário, ao menos em sua lógica grotesca de pura ignorância. Como poderia saber? Se martirizou por isso. Para quem conhece a obra-prima de Graciliano Ramos sabe que na realidade fictícia, mas real, criada pelo autor, até mesmo na ignorância reside a compaixão. Fabiano se criou da truculência, em que sobreviver e manter sua família viva, em um cenário de miséria extrema no sertão nordestino, estava acima de qualquer coisa. Mas, sabemos que ele se ressentiu. Baleia era mais do que uma cachorra ou um enfeite de família perfeita. Era uma integrante vivaz daquele círculo, que sofreu suas dores, se divertiu com os meninos, lhes arranjou comida e zelava por sua segurança. Infelizmente nem todo animalzinho é tratado como um familiar e sim uma figura de status. Quanto mais nobre a raça, mais fotos e curtidas, mais o ego dos “donos” se infla. Mas, quando as prioridades mudam, não pensam duas vezes. Chegou o bebê! Dão o pet a um amigo. “Mas vai ter

Das coisas que minha mãe me ensinou

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Minha mãe me ensinou a não levar desaforo para casa, mas também que teria de respeitar os outros para ser respeitado. Me ensinou que qualquer coisa que não fosse minha dentro da casa dos outros, era dos outros. Me ensinou que não era vergonha alguma ser pobre. Me alertou sobre as dificuldades que enfrentaria por ser pobre e preto, mas sempre incentivou a tentar alguma coisa melhor. Minha mãe me ensinou a ser competitivo, até hoje me confronta numa luta de “cosquinha”. Me ensinou que sempre devemos ter o pé atrás com as pessoas, pois os seres humanos estão propensos a nos decepcionar. Me ensinou a ser fiel e companheiro de meus irmãos. Que as pessoas mais velhas são dignas do nosso respeito e educação. Que devemos enfrentar de cabeça erguida um dia de trabalho, seja ele qual for. Que não existe nenhum lugar melhor que a casa da gente. Que os monstros de carne e osso são mais perigosos que os do além. Minha mãe me ensinou coisas que jamai

O dia em que meu irmão morreu!

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Um dia, meu irmão morreu! Calma, todos sabem que não. Foi em uma manhã qualquer em que recebi uma fake news das antigas, a boataria boca a boca de lugarejo minúsculo, que a cada interlocutor que encontra, é editada de forma a chocar da pior forma possível quem a ouve. Após o café da manhã, há uns 20 anos atrás, saí para o passeio matinal de um dia sem aula. Encontrei um ou dois amigos, conversamos as bobagens de sempre. Eis que um senhor me surpreende com um “Uai, não foi você que morreu?”. A primeira reação foi abrir um sorriso e debochar da insensatez do homem que duvidava de seus olhos. Mas o que veio depois se tornou numa das piores coisas que me aconteceu. “Então foi o irmão dele mesmo”, disse outro, de supetão. Sem entender, indaguei. Os dois me relataram o acontecido, pouco menos de uma hora atrás. Segundo eles, meu irmão, o “Cuiquinha”, estava bobeando de bicicleta perto da ponte do Bananal quando um carro o acertou, ou melhor, “o quebrou”, e havia sido levado par

Meu Broder!

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Aloísio Afonso de Oliveira e Silva, Afonsinho para os íntimos, Remelexo para os sacanas. Alguns amam odiá-lo, outros odeiam amá-lo. Parece ter vindo ao mundo apenas para causar dicotomias, ser o fiel da balança, balança essa que não o persegue, já que come um mexidão às 7 da matina e se mantém magrelo. Não tem nada de especial a quem não o conhece, o acham metido a besta, mas besta é que ele não é mesmo. Sempre foi desses de despertar alguma coisa aos que convivem com ele, como disse, amor e ódio são sentimentos que o rondam, apesar de o amor dobrar a maioria daqueles que, a um primeiro contato, lhe torcem o nariz. Todos sabem que quem não gosta dele, boa pessoa não é. A mim, ele foi um divisor de águas. Daquelas coisas que eu saberei até o fim de minha vida, que se não tivesse me acontecido, poderia ter sido completamente diferente. Desde aquela tarde, sei lá, 25 anos atrás (credo!), quando aquela figura esguia, com os dentes projetados e separados, roupa colorida como o W

O 13 da sorte

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O ser humano tem um costume inerente em acreditar em superstições. Falácias, que de tão bem contadas acabam por se tornar verdades inquestionáveis, axiomas iluministas sem qualquer base científica ou racional que valide sua existência. Uma delas gira em torno do número 13. Uma triscaidecafobia (sério, medo do número 13) que atinge muitas pessoas e que não se sabe bem de onde surgiu, mas alguns acreditam ter   alguma coisa haver com a Santa Ceia, onde treze pessoas compareceram à refeição derradeira de Jesus Cristo. Pasmem, mas em alguns países como EUA e Canadá, vários edifícios não possuem o 13º andar, nomeando o dito cujo como 12ºA, intermediário, menos 13. O Zagallo acha que o número idealiza sua sorte, onde um “vocês vão ter que me engolir” só se deu devido a uma série de combinações malucas que resultam em 13. Petistas, bem, todo mundo sabe. Mas pra mim, é só um número, mas um número especial, ao menos este ano. Este número corresponde ao número de anos em que acordei fe

A matemática do "eu te amo"

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Não me lembro bem da primeira vez que disse "eu te amo" para você. Deve ter sido umas duas semanas depois de começarmos a namorar, pois sou assim mesmo, se sinto com certeza o que estou sentindo, pra quê esperar para falar um "eu te amo". Já vi muitas vezes em filmes os personagens com aquele asco em dizer a tal frase. Ou mesmo entre amigos meus, que em nossa adolescência militavam contra o "otário" que tinha dito que amava uma garota. Amar é amar, seja entre pais e filhos, irmãos, namorados, é um estado de espírito lindo, que faz com se enxergue as coisas com mais alegria e otimismo. Se eu for relatar tudo o que mudou em minha depois que lhe disse "eu te amo" a primeira vez, teria de fazer mais um texto. Enfim, nesses quase treze anos em que lhe disse "eu te amo" pela primeira vez, não faço ideia de quantas vezes eu o tenha dito, penso em números exorbitantes, quase ilusórias. Mas vou tentar algo original, louco, mesmo não sendo

A Rainha das minhas tardes

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Quando se é criança, todas as tardes têm o potencial para serem inesquecíveis. E foi em uma delas que se construiu minha lembrança mais sensacional, uma lírica passagem de minha existência em que fui habitante de um planeta distante, que juntamente com meus dois irmãos, lutávamos para derrotar um vilão superpoderoso. Na verdade, toda essa história nasceu da super mente de minha irmã, que naquela tarde era a Rainha Krikra, e eu e meu irmão, os Krikrizinhos. Tudo aconteceu em influência direta do clássico da Sessão da Tarde “A Caravana da Coragem”, spin-off da saga Star Wars, que trazia os Ewoks como os protagonistas da trama. O ponto é que em meio a dureza do mundo real, estávamos lá, nos divertindo, vivendo em um mundo de fantasia bem mais acolhedor do que aquele que nos encarava quando a névoa da diversão se dissipava. Tudo isso graças à minha irmã. Desde sempre foi aquela que se preocupou em tentar afastar os pensamentos de seus dois caçulas de tudo o que poderia nos aborrecer