De Brokeback Mountain à Coxinha: Histórias de Meu Irmão
Bem, falar coisas boas do meu
irmão é chover no molhado. Prefiro focar em uma coisa que ele é uma
unanimidade: construir histórias impagáveis. Puxei da minha mente algumas das
melhores. Espero que gostem!
VOVÔ E A PEDRA
Sabidamente o Éder (sim, só chamo
ele de seu nome verdadeiro!) era o mais terrível dos filhos de Dona Neuza, com
peraltices de deixa-la de pele branca (apesar de médicos dizerem ser vitiligo).
Meu avô andava impaciente com as constantes brigas de seu neto com Lilinho, o
antagonista da primeira infância do pequeno Éder. Dia após dia era o mesmo “toma
conta desse menino, tá na rua brigando de novo”. Minha mãe, entre safanões e
chineladas não dava conta. Pobrezinha. Um dia o endiabrado se encantou com um
estilingue (atiradeira no bom manejês) e dando de ombros às ameaças de mamãe,
mandava pedras em direção à rua de baixo, sem se importar a quem iria alvejar.
Para seu amargo azar, seu avô fazia a caminhada da tarde, e segundo confiáveis
testemunhas que bebiam tranquilamente em um butiquim, o velho Capalengo
praguejava enquanto se abaixava para pegar o chapéu. Sim, por coincidência o
atrevido lhe deu uma pedrada na lua. Entre os grunhidos as testemunhas
discerniram um “aposto que foi o Éder”. Fava contada. Mas, esse fato mudou a
trajetória do menino, que passou ir com o avô na fazenda do Seu Walter, onde
aprendeu muita coisa e fez grandes amigos.
ELE DORME, ELAS....
Uma coisa de se admirar no
cidadão é como tem uma capacidade monstruosa de fazer amizades sólidas. Talvez
pelo seu enorme coração, sei lá. O certo é que, quem gosta dele, gosta mesmo.
Em uma longínqua noite, Eder sai para se divertir com suas amigas de infância,
Mariana e Amanda. O danado tinha de acordar cedo e foi na frente, para tirar
uma boa soneca no apê das garotas. E quando o rapazinho dormia filho, nem a
Anita e seu Show das Poderosas no último volume (sim, a música foi seu
despertador por um longo tempo) ou o Edmilson dando-lhe tapas na fuça, era
capaz de fazê-lo acordar. O sacana adormecido, não ouviu o telefone tocar, dentro
de sua cara. Não ouviu o clamor das garotas embaixo de sua janela. Mariana,
tadinha, ainda estava passando mal. Só matando. Um ex-namorado de Amanda
conseguiu uma escada, para entrar pela janela (que sorte, era segundo andar!) e
salvar a madrugada. Ops, já era dia! E o miserávi? Continuou dormindo o sono
dos sacanas. Pasmem, são amigos até hoje.
BROKEBACK MOUNTAIN
Dos costumes mais bizarros de meu
irmão, um dos top five com certeza é conseguir assistir a um filme duas vezes
seguidas. Seguidas. Como assim gente? Bem, como alguns sabem sou cinéfilo,
daqueles de ter coleção, de Missão Impossível a Morangos Silvestres, e ostento ao
lado de minha irmã, um acervo razoável. Um dos problemas de se morar com uma
mãe que censura cenas de sexo e violência é ter de esperar altas horas para que
se possa desfrutar um bom filme de censura 18 anos. Entretanto, em um mês de
férias, meu irmão, que já tinha cometido a proeza de assistir a 24 episódios de
Smallville em um dia (acreditem por favor!), resolveu passear pela coleção.
Desprovido de qualquer noção colocou para rodar, às duas da tarde, imaginem,
atrapalhando Dona Neuza assistir ao Vale a pena Ver de Novo, O Segredo de
Brokeback Mountain, o brilhante filme de Ang Lee, que conta uma linda história
de amor entre dois homens. Para nós, nada a ver, mas para uma senhora sensível
a censura 18 anos, meu deus. Na cena da barraca minha mãe saiu da sala. E
quando o famigerado filme acabou? O maluco, elevando o grau de falta de noção,
assistiu de novo, para desespero de Dona Neuza, aborrecida sentada na varanda.
Dizem as más línguas que depois da segunda sessão, consternado e com olhos
marejados, o rapaz se levantou e foi cheirar e abraçar uma jaqueta do Willian,
nosso amigo Leitão Donato. Isso prefiro não comentar.
A CAIXA DE BOMBOM
Se alguém entre todos amigos de
Éder ostenta as melhores histórias com ele, este é com certeza Aloisio Afonso,
o Afonsinho. Desde que se conheceram em uma tarde o mané com uma roupa pra lá
de colorida e canelas longas tentou o intimidar (pense no Will Smith na
abertura de Um Maluco no Pedaço, pois é), se tornaram grandes amigos. Certa
vez, sei lá por que cargas d’água duas garotas da cidade, a passeio no Manejo,
resolveram dar bola para os dois panguás. Se animaram, e ganharam o apoio da
Dona Dorvalina, mãe do Afonsinho, por acaso, madrinha do Éder, que lhes
compraram uma caixa de bombons para cortejarem as minas. De banho tomado, bem
vestidos (é.... o Éder saiu de casa com uma combinação de vermelho e amarelo,
mas, deixa o muleque!), os dois se reuniram na casa do Afonsinho para esperar a
hora do encontro. Vocês acreditam que os lazarentos abriram a caixa de
chocolates e encheram o bucho? Menos mal que não comeram tudo e levaram para as
garotas o meio amargo e os crocantes. Serenata? Nem o papel. Se ficaram com as
garotas? Vocês ficariam? Panguás.
UMA COXINHA E DEZ KM
Os inseparáveis Éder e Afonsinho
iam todos os sábados a Lima Duarte treinar no time dente de leite do
Associação. Sério gente, meu irmão sempre teve um problema em perceber o quanto
era (é um pouquinho ainda, deve ser) sem-noção. O pobre Afonsinho, acompanhou Éder
em um delicioso lanche na rodoviária (um buteco que vendia as passagens).
Atencioso e cortês, o Cuiquinha fez as honras e pagou um guaraná e uma coxinha,
para ele e o seu grande amigo, que havia pago sua passagem de ida. Com o “estominho”
forrado era hora de comprar as passagens da volta. O mizerávi foi lá e comprou
a dele enquanto Afonsinho esfregava as mãos, em cacoete que carrega até hoje,
esperando que o rapaz retribuísse a compra de sua passagem na viagem anterior. “Não
fin, eu te paguei com a coxinha”. Resultado? Enquanto Afonsinho amargou 10 Km
de caminhada sob sol escaldante do meio-dia para regressar ao Manejo, o sacana
lhe acenou pela janela do ônibus, em um puro sinal de boa fé. O mané do
Afonsinho ainda é seu padrinho.
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