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SÓCRATES: REBELDE OU HERÓI?

Ele foi um dos grandes exemplares de atletas numa época romântica do nosso futebol. Mais que um talentoso jogador, Sócrates se fez ídolo não só pelos lances geniais e títulos importantes que conquistou ao longo de sua brilhante carreira. Mais que um ídolo, Sócrates era um homem de princípios cristalinos tornando-se um pilar essencial nos tempos difíceis para o país. A chamada Democracia Corintiana no início dos anos 80 teve em suas ideias lúcidas e empreendedoras, a base para a construção da democracia do país. Militante ativo do movimento Diretas Já, não teve medo em ser tachado de anarquista. Não deixou que sua voz se calasse perante a ditadura. A torcida campeã brasileira hoje sente com pesar sua partida. E vibra com a lembrança deixada por um homem que se fez HERÓI de uma enorme nação. Um raro modelo de atleta preocupado com as questões do país. Bem diferente dos astros individualistas que permeiam o mundo do futebol hoje em dia. Astros preocupados apenas com seus egos e em como de

O homem que não tinha Facebook

E lá estava eu, naquela indecisão frente à tela inicial de cadastro da rede de relacionamentos que já coletou mais de 800 milhões de pessoas para sua turminha. Sim, falo do Facebook. Antes de arrastar a setinha para o botão que derradeiramente me incluiria no paraíso virtual criado por um grupo de “amigos” envoltos em uma grande novela de litígios judiciais, percebi que estava me traindo. Já que acredito veemente na futilidade de tal interação artificial. Imaginei tudo o que o enlace poderia me trazer de benefícios, sim, apesar de a maioria dos usuários utilizarem a rede apenas para o cultivo de egos inflados, é uma ferramenta de muita utilidade nestes tempos estranhos. Contratam-se profissionais de mais variadas áreas através dela. É, ela serve para os carrascos de RHs observar a conduta do postulante à vaga de uma empresa. É como se fosse a virtualização da máxima “me diga com quem andas que lhe direi quem és”. Será? Pois não faz sentido. Nas telas do diário aberto a olhos famintos p

Relação de Amor em Preto e Branco

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O fervor passa-lhe pelas bochechas. Seus dentes brilhavam num sorriso sincero. Os olhos cor de mel e a boca de um aveludado róseo. Fitava-o com admiração infantil, desejava-o como se fosse a última coisa que valesse a pena. Seu corpo nu, branco como neve do Himalaia, contava histórias que poucas páginas ainda eram conhecidas. Os seios alvirrubros e delicados, se enchiam de charme ao se ocultarem nos cabelos lisos que lhe caiam pelos ombros. Os flancos pedintes derivam à mimosa área da libido. A perfeição e o esplendor das nádegas, imponentes. Lembram dois melões e forma e sabor. Uma paixão visceral arrebatava seu coração. Corpo e mente ansiando pelo momento. Suas mãos brutas e pretas se inquietavam. Passava a língua por entre os grossos lábios, com um olhar misterioso. Seus braços fortes e imperfeitos estremeciam junto com o peitoral sedentário. Seus pelos se enrijeciam por todo corpo. O cheiro de morango silvestre que lhe adentrava as narinas, emocionava os aguçados olhos opacos. O

Um dia em setembro

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Naquele dia acordei estranho. Senti a cabeça pesada, como se tivesse tomado todas na noite anterior. O sol não brilhava. O fosco daquela manhã parecia o prenuncio de uma tempestade que não caía há algumas semanas. O cheiro da brisa poeirenta irritava ainda mais a minha renite. O som dos pássaros estava baixo, como se pressentissem algo de cruel naquele dia. Nem o delicioso café da mamãe parecia tão saboroso quanto antes. Ao caminhar pela rua de chão batido do lugarejo onde morava, percebi que quase ninguém estava nela. A dona Catarina varria o terreiro como de costume, mas não cantarolava suas velhas canções. O Seu Dico apenas abanou a cabeça para me cumprimentar do portão, o que não era de seu feitio, adorava as pilhérias. A casa de meu amigo, o segundo melhor lugar do mundo para mim naquela época, estava silenciosa. Concluí que alguma coisa estava acontecendo. Na sala, Adriana estava atônita frente à TV. Perguntei pelo irmão dela, mas não houve resposta. Sentei-me ao seu lado e ver

O Caso da Borboletinha

Por duas vezes a Borboletinha voou sobre a cabeça do Homem. Ela queria apenas mostrar toda sua exuberância, talvez querendo que ele a notasse. Mas não havia resposta positiva, apenas tapas, assopros e blasfêmias. Era uma pessoa insensível ao tipo de beleza que exprime um bichinho tão delicado. Por dias tentou contato, porém em vão. Nem a aproximação dela, o Homem permitia mais. Eis que um dia, acordando de uma sesta, ele a enxergou. Na pontinha de seu nariz pode observar tudo o que não se permitiu ver por um bom tempo. A Borboletinha fazia pose, se sentiu com o astral ascendente. Por vários minutos se olharam, se admiraram, se apaixonaram. O Homem se retraiu. Aquilo jamais poderia acontecer, pois era um machão convicto. Nunca se inclinaria a uma situação daquela. Passaram a se ver todos os dias. Ele sempre quis parar, mas já era tarde. A Borboletinha havia tomado seu coração, era sua pequena musa. O Homem se rendeu ao amor que sentia, passeava, cantava, dançava, sempre com

O Velho e o Bar

E mais uma vez lá estava o Velho. Cabeça baixa, olhar perdido, parecia compadecido por alguma moléstia incurável. Seus braços pesados, como se tivessem sustentado o mundo nas costas, não mais conseguiam ficar por sobre a mesa. Sozinho, sua única companhia era um Ursinho de pelúcia que encontrara no lixo. Falava sobre sua vida, lamentava suas tristezas. E o ursinho ouvia atentamente. Um dia o Velho estava agitado. Abanava as mãos grossas e movimentava freneticamente sua boca murcha. O pessoal que ainda estava no bar, se afastou com medo de que a insensatez lhe tirasse a razão. Novamente sozinho, começou a chorar. De repente sentiu um toque aveludado em seus ombros. O Ursinho estava de pé na mesa, com um olhar terno, como se quisesse dizer algo ao seu amigo de longa data. Ainda sem acreditar, o Velho olhava para todos os lados, mas só ele ali estava. Tomou coragem e perguntou ao Ursinho o que ele queria. Sem nenhuma resposta, levou a mão rude até a cabeça do felpudo. Sim, era o

Epístola ao Pai

Olá Pai, quanto tempo. Parece que foi ontem que você partiu e ainda sinto a dor daquela noite. Como estão as coisas? Espero que estejam boas, pois aqui tudo anda tudo bem. Desde que se foi muitas coisas mudaram, boas e ruins, felizes e tristes. Hoje sou um homem independente, pago minhas contas, estudo e trabalho. Teria orgulho de ver que o menino inseguro que o senhor deixou aos dezenove, se tornou um adulto equilibrado e responsável. Faço faculdade de jornalismo, e quem diria, estou para me tornar o comentarista que dizia para todos que me tornaria. Uma pena não estar aqui para a formatura. Por falar em se formar, o Éder se formou, e pela segunda vez. Nem acredito que tenha conseguido tal feito. Não duvidei de sua inteligência e capacidade, isso nunca. Mas para quem abriu mão de estudar para ajudar a família nos momentos mais difíceis, isso foi algo espetacular. Apesar de todos os defeitos, sua força de vontade e persistência é admirável. A Flávia terminou o ensino médio,

Driblando o destino

Família indiana morando na Inglaterra tem problemas com a filha que decide quebrar as regras e se tornar uma jogadora de futebol Esta bem que poderia ser mais uma manchete de jornal que frequentemente lemos nos jornais de todo mundo a cada dia. Mas o trecho acima se refere à uma sinopse cinematográfica de um tema cada vez mais onipresente na sociedade mundial. Meninas que se aventuram no mundo de um esporte que, se não fosse por elas, já teria perdido todo seu encanto dentro e fora das quatro linhas. Enquanto eles deixam de ser desportistas para se tornarem astros milionários (os chamados pop stars da bola), elas seguem na sua saga enfrentando duros adversários, como uma teimosa falta de reconhecimento e um preconceito sem nenhuma explicação plausível. Quando uma menina decide ser uma atleta, de certo não encontra nenhuma relutância cabal por parte da família. Afinal de contas, esporte é vida, e na maioria das vezes uma solução mais que saudável de se moldar um ser humano. No

Pós-mortein

A morte é sempre um assunto muito delicado. É algo que nos é mistificado assim que começamos a entender o complexo funcionamento do mundo. Ela nos assusta, atormenta, e nos persegue até termos a exata noção de que será inevitável confrontá-la. Ao sofrermos uma perda, aceitamos a finitude, com a certeza que virá a acontecer outras e outras vezes. Avós, tios, pais, irmãos, amigos, companheiros e filhos, por mais terrível que seja imaginar o momento, ele vai chegar. Entre condolências, eufemismos, lágrimas e desmaios, o roteiro fúnebre se desenvolve de acordo com a cultura do defunto. Discursos, tiros, cortejos e às vezes canções, tudo é válido para que o momento da despedida seja o menos torturante possível. Palavras, abraços, apertos de mão ou simples olhares, a emoção e a tentativa de confortar os desconfortados se tornam um filme preto e branco, mudo e triste. Velhos, adultos, jovens ou crianças, a morte não escolhe e nem tem escolha. Ainda que revolte ver uma criança ou um jovem, com

O Menino de Realengo

O Menino de Realengo sempre foi um rapaz triste e desde cedo sofreu com a exclusão da sociedade. Introspectivo, vivia às margens das frivolidades púberes de seus colegas de escola. Não participava das atividades, não ia lá na frente resolver problemas no quadro. Na chamada, sua voz quase inaudível era sempre substituída por algum gracejo debochado de um espírito de porco pré-adolescente. Era açoitado sem açoite, pisoteado sem pé, e sem entender o porquê de tudo aquilo. O Menino de Realengo foi crescendo. Crescendo dentro de sua alma também estava o ódio que sentia de tudo e de todos. Depois da morte de sua única amiga, sua mãe, perdeu completamente o rumo. Cada vez mais fechado, foi se tornando uma efígie encostada em um canto qualquer da sala de aula ou de outros lugares os quais costumava freqüentar. Não conversava com ninguém, não brigava com ninguém, não beijava ninguém. Era um zero sempre à esquerda da esquerda de qualquer atividade que reunisse os jovens do bairro. De repente o M

Messi Cristina Barcelona

E lá se foi Cristina. Deixou sua querida Rosário para descobrir os encantos de Barcelona. Ia ao encontro de sua prima de segundo grau, que não conhecia pessoalmente, apenas pelo Facebook. O convite veio depois de muito papo, onde Clara lhe contou sobre a maravilha que era viver na cidade catalã, como se apaixonou pelo jornalismo e pelo fantástico time de futebol local. Esse assunto, por sinal, era o único nos quais seus pensamentos não conciliavam. Assim como sua prima, Cristina também era apaixonada por jornalismo, que pretendia começar a estudar no próximo ano, e adorava futebol. Mas para ela, o melhor time do mundo era o Real Madrid, e o melhor jogador, Cristiano Ronaldo. Por algum motivo odiava Messi e ignorava seus lances esplêndidos. Por mais que Clara lhe interrogasse, os motivos sempre soavam banais e sem sentido. Chegou ao saguão do aeroporto, ansiosa. Clara já a estava esperando com um largo sorriso que combinava com seus olhos cor-de-mar. Se abraçaram como se não se co

Admirável Jornalismo novo

No mundo digital, os parametros do jornalismo se tornaram maiores em termos de produção e distribuição de informação. O que muitos julgam como uma hecatombe na qualidade do processo, o doutor em jornalismo e professor e pesquisador da Universidade Federal da Bahia, Elias Machado, em sua tese “O ciberespaço como fonte para os jornalistas” , mostra que mesmo com seus problemas, a web pode auxiliar o profissional, desde que utilizado de forma correta. O principal suporte oferecido pelas redes telemáticas que geralmente são utilizados pelos jornalistas são os dados numéricos, ou seja, os índices quantitativos e gráficos. Neste caso este auxilio digital instaura um banco de dados virtual no qual é possível checar ou comparar informações recolhidas por quaisquer fontes. Em contrapartida, a difusão de uma quantidade ilimitada de material pode comprometer a confiabilidade. O jornalista afirma que “A estrutura descentralizada do ciberespaço complica o trabalho de apuração dos jornalistas nas re

Há seis anos

Lá estava ela. Linda como sempre com seu sorriso que refletia os brincos de ouro-de-tolo de suas amigas. Eu, parado com cara de idiota, só conseguia pensar em uma coisa:"Que diabos essa menina viu em mim?". Olhava para meus amigos só para ver a reação deles quando ela chegasse e me beijasse. Sua bela jaquetinha branca combinava com seu claro sorriso e complementava o brilho de seus olhos. Meu coração batia descompassado. Não poderia demonstrar a minha insegurança e ansiedade. Não queria que pensasse que era um frouxo que se entrega a uma garota logo com um dia de namoro. Queria manter minha panca, mas acima de tudo não queria decepcioná-la. Me senti réu e juri em um julgamento íntimo. Seria mesmo digno de moça tão bela e adorável? Os segundos se arrastavam e quanto mais ela se aproximava, mais a acusação me setenciava. Uma branca namorando um negro? De tão nervoso cheguei a pensar bobagem. Se ela não se importava com a quantidade de melanina que tinha em minha pele, por que e