O CLAMOR DO MENINO EDSON

Na noite do dia 19 de novembro 1969, Pelé correu para a bola, bateu, no canto, e Andrada se adiantou, pulou, se esticou, mas não teve jeito. Naquele momento, o maior jogador de futebol de todos os tempos convertia seu milésimo gol, sentava no trono e esperava a coroação que ocorreria em pouco menos de um ano, na copa de 70, no México. Na euforia do gol e rodeado por centenas de pessoas, entre repórteres e fãs que haviam invadido o campo, Pelé disse: “O povo brasileiro não pode esquecer nossas crianças...”, declamou esse nobre discurso em meio à emoção de seu feito histórico. Alguns o chamaram de demagogo, que suas palavras eram decoradas como um discurso de miss e que tinha um teor politizado para incomodar o regime ditatorial, que estava em seu auge. Porém, o que estaria pensando naquele exato momento nosso Rei? Poderia estar lembrando-se da infância difícil, da pobreza e do preconceito. Sabia muito bem que se não fosse pelo seu dom transcendental, continuaria na ríspida luta para se manter vivo, na dignidade de um trabalho duro e mal remunerado, onde jamais conheceria o que conheceu, chegaria aonde chegou, faria o que fez. Por isso, aquela frase pode ter vindo do menino Edson, clamando pelas outras crianças, para que não dependessem de um dom para terem o direito a uma vida melhor, pois apesar de monstruoso com a bola nos pés, se tratava de um ser humano com compaixão correndo nas veias. Foi um lindo grito de igualdade, onde apontava que o futuro do país dependia da educação e zelo às nossas crianças, que infelizmente, até hoje, parece não ter sido ouvido.

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