O Caso da Borboletinha

Por duas vezes a Borboletinha voou sobre a cabeça do Homem. Ela queria apenas mostrar toda sua exuberância, talvez querendo que ele a notasse. Mas não havia resposta positiva, apenas tapas, assopros e blasfêmias. Era uma pessoa insensível ao tipo de beleza que exprime um bichinho tão delicado. Por dias tentou contato, porém em vão. Nem a aproximação dela, o Homem permitia mais.

Eis que um dia, acordando de uma sesta, ele a enxergou. Na pontinha de seu nariz pode observar tudo o que não se permitiu ver por um bom tempo. A Borboletinha fazia pose, se sentiu com o astral ascendente. Por vários minutos se olharam, se admiraram, se apaixonaram. O Homem se retraiu. Aquilo jamais poderia acontecer, pois era um machão convicto. Nunca se inclinaria a uma situação daquela.

Passaram a se ver todos os dias. Ele sempre quis parar, mas já era tarde. A Borboletinha havia tomado seu coração, era sua pequena musa. O Homem se rendeu ao amor que sentia, passeava, cantava, dançava, sempre com ela ao seu lado exalando graciosidade por onde passava. Sonhava com um mundo onde pudessem se casar, ter filhos, viver uma vida conjunta. Eram um para o outro, assim como o céu para as estrelas.

Até que um belo dia a Borboletinha não apareceu. O Homem saiu à sua procura pelo pomar. Vasculhou por toda à tarde, porém nada encontrou. Quanto mais o crepúsculo se aproximava, mais o desespero dele aumentava. Recolheu-se, mas não conseguiu dormir. Inutilmente olhava a treva que tomara o pomar. Suas lágrimas saltaram pelos olhos. Sentiu que havia a perdido.

Dia após dia, o Homem ficou sentado na varanda, o lugar onde a viu pela primeira vez. Embora tivesse consciência de que a Borboletinha não mais voltaria, sua esperança se mantinha viva. Aquele vazio o consumia tanto que fixava a visão em alguma folha seca ao longe e se enganava desejando que fosse sua pequena. Por fim percebeu que o tempo é curto demais para amar. Se amargurou pelo resto de seus dias por ter deixado de ver que o amor de sua vida estava ali, mas demorou muito para enxergar.

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