O Velho e o Bar



E mais uma vez lá estava o Velho. Cabeça baixa, olhar perdido, parecia compadecido por alguma moléstia incurável. Seus braços pesados, como se tivessem sustentado o mundo nas costas, não mais conseguiam ficar por sobre a mesa. Sozinho, sua única companhia era um Ursinho de pelúcia que encontrara no lixo. Falava sobre sua vida, lamentava suas tristezas. E o ursinho ouvia atentamente.

Um dia o Velho estava agitado. Abanava as mãos grossas e movimentava freneticamente sua boca murcha. O pessoal que ainda estava no bar, se afastou com medo de que a insensatez lhe tirasse a razão. Novamente sozinho, começou a chorar. De repente sentiu um toque aveludado em seus ombros. O Ursinho estava de pé na mesa, com um olhar terno, como se quisesse dizer algo ao seu amigo de longa data.

Ainda sem acreditar, o Velho olhava para todos os lados, mas só ele ali estava. Tomou coragem e perguntou ao Ursinho o que ele queria. Sem nenhuma resposta, levou a mão rude até a cabeça do felpudo. Sim, era o seu amiguinho, aquele de todos os dias, não tinha o que temer. Começou a falar, pediu opinião, abraçou e beijou o companheiro. Ninguém parecia se importar com a interação do Velho com um ser inanimado.

O Ursinho andou até a ponta da mesa. Sentou à frente do Velho e o olhou profundamente.


Vida breve vida que me deixas
Quando me perdes e se queixas
Longos passos ainda posso ir
Ter a certeza de que hei de vir
Boas novas do povo de outrora
Minha lua minha terna senhora
Voltarei a ti



O Velho acordou. O Ursinho estava ali na sua frente, inanimado. Seria sonho ou realidade o que acontecera? Não quis saber. Pegou o amigo, pagou as cachaças que bebeu, e se foi. Nunca mais ninguém viu o Velho e seu amigo Ursinho. Hoje é uma lenda no bar onde sempre frequentou.

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