Crônicas da saudade: Aquele Jogo
Manejo e Vila São Geraldo é o que
pode se comparar a Corinthians e Palmeiras, Flamengo e Vasco ou um Gre-Nal no
nosso modesto futebol amador. Pela proximidade das comunidades e o convívio
cotidiano, uma vitória sobre o rival no campeonato inter-distrital de Lima
Duarte era motivo de alegria e escárnio por algum tempo. Mas, aquele era
diferente. Tinha algo a mais. Era exatamente sete dias após a morte de um de
seus torcedores mais fervorosos, que se foi ocupando o cargo de
vice-presidente. João Batista da Silva, o Criolo, acompanhava a equipe seja
onde quer que fosse, ganhando ou perdendo. Por isso, vencer aquele clássico
estava acima de qualquer outra coisa.
A equipe andava desmotivada,
quase eliminada prematuramente na primeira fase. Mas, naquele jogo não haveria qualquer
coisa que diminuísse o ânimo. O atacante, Cuíca, era filho de Criolo, e sempre
foi ídolo de seu pai no futebol, e já se desmanchara em lágrimas no discurso dentro
vestiário. Como eram todos amigos, “fecharam” com o rapaz para que não perdessem
aquele jogo, não aquele. Mesmo com o calor escaldante, mesmo com um jogador a
menos, mesmo com o time adversário melhor, aquela seria a “missa de sétimo dia”
mais inesquecível de todas.
Começou o jogo, e como era de se
esperar o time deles estava melhor. Júlio, atacante do rival perdeu um gol feito, pois não fariam gol aquele dia, não naquele jogo. O goleiro, Robinho, fez um ou dois
milagres, por que aquele dia não poderia tomar gol, não naquele jogo. Afonsinho, com o joelho
baleado lutou como nunca. Suas conhecidas botinadas deram lugar a um jogo
limpo, pois não poderia correr o risco de ser expulso, não naquele jogo. Uma
jogada pela direita, Abel, nosso saudoso amigo, não foi fominha, não podia, não
naquele jogo, e cruzou com perfeição. Guida, amigo de Criolo, cabeceou como se o
ouvisse gritar “lá”, e lá, no ângulo a bola morreu. Era o gol, que não poderia
faltar, não naquele jogo.
O time se desdobrou, lutou e
transpirou como não se via a muito tempo por aquelas bandas. Quando o juiz
finalmente apitou, foi como se o campeonato ali tivesse terminado, como se o titulo
tivesse sido conquistado. O dever tivesse sido cumprido. Cuíca agachou no campo.
Chorou um choro feliz. Foi abraçado com emoção por todos seus companheiros. E com
respeito por todos seus adversários. Sim, era um jogo onde os adversários
também eram amigos e que também se comoveram com a perda sofrida uma semana
antes.
Foi inesquecível, lindo, mais que um jogo, uma ode ao amor fraternal. Cuíca foi o último a ir para o vestiário. Por um instante olhou para
arquibancada, pensou ter ouvido um “vai Éder” durante o jogo. Mas foi apenas a
saudade pregando uma peça. Ao menos o homenageou. Não perdeu o jogo. Não poderia perder. Não
aquele jogo.
Eita jogo ,muitas saudades do nosso eterno "CRI"que esteja lá com o nosso senhor olhando e si orgulhando mais ainda de seus filhos
ResponderExcluirComo tempo passa grande homem
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